Será Que Estamos Atrapalhando o Evangelho?



Tal pergunta não é a única digna de ser feita. Essa é minha queixa em relação a tantos livros da linha "igreja é careta", tanto do filão do crescimento da igreja como da abordagem emergente / missiológica. Eles presumem que todo declínio no comparecimento, toda percepção negativa que se tem da igreja, todo problema social não resolvido e todo descrente ainda vagueando ao lado de fora de nossas portas é uma acusação ao "jeito de ser igreja". Se as pessoas não estão entrando para conhecer o Senhor aos montes e se nossas comunidades não são transformadas numa cidade multicultural construída sobre um monte, então deve haver algo terrivelmente errado com a igreja como a conhecemos. "Certamente é hora de mudar. Se não tudo, pelo menos a maior parte", argumentam eles.

Existem, no entanto, outras perguntas que precisam ser feitas quando não vemos os resultados que desejamos. São perguntas do tipo:

- Acreditamos no Evangelho? As pessoas não acreditarão no cristianismo se não sentirem que nós acreditamos nele. Isso é especialmente verdadeiro quando a dúvida e a descrença vêm do púlpito. Como Richard Baxter (1615-1691) notou em sua própria época, algumas de nossas igrejas são pastoreadas por homens não regenerados. Muitas outras possuem pregadores que estão confusos em relação ao evangelho ou simplesmente são frios em relação a ele. Apenas um século depois (em 1740), George Whitefield concluiu que "a generalidade dos pregadores [da Nova Inglaterra] fala de um Cristo desconhecido e não sentido. A razão de suas congregações estarem tão mortas é o fato de que homens mortos pregam para elas".

- Cofiamos no poder do evangelho? Se o evangelho é "o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16), por que nossos cultos e nosso evangelismo não se concentram mais explicitamente nas boas-novas da morte e ressurreição de Cristo para o perdão dos pecados? Do mesmo modo, se nossas igrejas estão encolhendo, isso talvez esteja acontecendo porque o papel da Palavra encolheu em nossa pregação e no nosso testemunho. Realmente cremos que Deus vai edificar sua igreja por meio de sua Palavra ou confiamos em truques e artimanhas?

- Estamos proclamando o evangelho? Parece simples para alguns e terrivelmente fundamentalista para outros, mas, se quisermos presenciar crescimento na igreja, precisamos de fato sair e contar às pessoas as boas novas de Jesus. O crescimento da igreja não estará em sincronia com o crescimento populacional a não ser que compartilhemos ativamente o evangelho com não cristãos e, de maneira atraente, insistamos em que eles se reconciliem com Deus.

- Estamos proclamando o evangelho correto? Numa era em que muitos cristão acham que a precisão doutrinária é um obstáculo no caminho da missão, faremos muito bem se lembrarmos que Paulo condenou ao inferno qualquer um, incluindo ele mesmo, que adulterasse o conteúdo do evangelho (Gl 1:8). Deus abençoe as igrejas que permanecem fiéis à sua Palavra. Ao iniciar sua pesquisa sobre o comparecimento à igreja na América do Norte no período de 1776 a 2005, os sociólogos Roger Finke e Rodney Stark escreveram: "Há forte indicação de que, conforme modernizaram suas doutrinas e abraçaram valores temporais, as denominações entraram em declínio". Quando se trata de fronteiras doutrinárias e exigências morais, a história da igreja nos Estados Unidos demonstra que mais rigoroso significa mais forte. Não podemos esperar que a igreja cresça ao mesmo tempo em que proclama um evangelho falso.

- Estamos embelezando o evangelho com boas obras? Devemos atentar para nossa doutrina e também para nossa vida (1Tm 4:16). As pessoas não ouvirão nossa mensagem nem serão atraídas às nossas igrejas se virem cristãos hipócritas e igrejas que não se preocupam com os problemas do mundo. Nossas boas obras não são o evangelho, mas podem embelezá-lo e torná-lo mais atraente (Tt 2:10).

- Estamos orando pela obra do evangelho? Devemos orar pedindo mais trabalhadores, corações receptivos e que o Espírito de Deus produza o novo nascimento de modo sobrenatural. Se de fato cremos na soberania de Deus, tendências e estatísticas desanimadoras nos levarão primeiramente a orar. Todo indício de desesperança é um lembrete para esperarmos em Deus e um incentivo à oração.

- Estamos educando nossos filhos no evangelho? Boa parte do menor comparecimento à igreja deve-se ao fato de nós mesmos não conseguirmos manter nela nossos filhos. Que adiantará ao homem transformar o mundo inteiro e perder seus próprios filhos? Também devemos considerar que o crescimento da igreja é tanto uma aliança como um esforço evangelístico. Se quisermos que a igreja na América cresça, devemos considerar como Deus está chamando alguns de nós (mas não todos) a fazer com que nossa família cresça.


A Pergunta de um Deus Soberano

A todas essas perguntas eu poderia adicionar mais uma: "Estamos confiando na soberania de Deus no evangelho?"Deus faz que o surdo ouça e o cego veja. Ele derrete corações de pedra e endurece outros. Paulo nem sempre viu uma resposta favorável ao evangelho. Nós também não veremos. Deus pode enviar uma temporada de bênçãos ou reavivamento ou pode usar-nos, como fez a muitos dos profetas, para dar um último aviso de julgamento por vir. Alguns plantarão, alguns regarão e alguns farão a colheita.

Nossa parte é fazer nossa parte. O declínio ou estagnação da igreja pode levar-nos a fazer uma avaliação pessoal em todas as categorias anteriormente citadas. Mas somente Deus salva. É correto planejar e orar pedindo "resultados", bem como insistir que as pessoas conheçam a Cristo, mas ninguém pode mudar o número dos eleitos de Deus.

Lembre-se de que, naquela "manhã gloriosa", Deus não recompensará os frequentadores - e, aliás, nem suas igrejas - por terem sido grandes e influentes, mas por terem sido bons e fiéis (Mt 25:23). Isso é tudo o que Deus pede de nós: sermos bons e fiéis, o que é correto, porque é o melhor que podemos fazer.


Autor: Kevin DeYoung
Extraído do livro "Por que amamos a igreja" da Editora Mundo Cristão - Pág. de 32 a 36

Fonte: Blog Cruz Vazia